Minha primeira sala de aula – E agora?

O início de nossa história com a Educação pode começar de maneiras muito diversas, pode ser tecida por memórias afetivas de familiares próximos que viveram a carreira profissional na Educação – quantas professoras se recordam de crescer em meio à provas e livros, vendo suas mães, avós ou tias tão queridas desempenhando com afinco sua missão de ensinar. Pode também a história ser a da mulher que, precursora, foi a primeira da família a cursar a faculdade e orgulhosamente ter recebido um título de nível superior. Pode ser que algumas de nós tenhamos trilhado outros caminhos, que tenhamos atuado em trabalhos administrativos, funções diversas fora da área da educação e, pode ser ainda que, para outras de nós, a história tenha sido trilhada desde o início dos estudos no ambiente escolar, onde tivemos a experiência de desempenhar funções dentro da escola: estagiárias, auxiliares de sala, monitoras… tantos e diferentes caminhos até a conquista de algo tão esperado: nossa primeira sala de aula!

É claro que a perspectiva de ter, pela primeira vez, uma turma para chamar de nossa pode gerar aquele “frio na barriga”! “Meus alunos, meus pais, minha sala, minha responsabilidade…” o quanto galgamos o sonho de ter tudo isso não é mesmo? Que tal, então, nos dedicarmos a realizar esse sonho e vencer esse desafio da melhor maneira, como professoras compromissadas que somos? Mas claro, esse caminho não precisa ser trilhado solitariamente! Para começar, nos colocamos também como suas parceiras e trouxemos algumas dicas que, com certeza te ajudarão a organizar sua prática e vencer o desafio da primeira sala de aula com mais tranquilidade.

Você tem competência para fazer o que se propôs a fazer: acredite em você!

Por vezes percebo que algumas professoras assumem postura extremamente apática diante da perspectiva de assumir uma nova turma, anulando inclusive experiências anteriores, minimizando suas histórias. Ao escolher – mesmo que involuntariamente – por essa postura, muitas vezes até verbalizando o quanto se sentem incapazes, essas professoras, além de desconsiderarem as experiências já vividas, podem inclusive estar trabalhando para abalar sua imagem, fazendo com que quem está ao redor também desacredite de sua capacidade. A oportunidade de ter sua primeira turma, é na verdade o resultado de todo o esforço e trabalho ao qual você se dedicou anteriormente! Você não acordou em uma bela manhã e, como por mágica, uma sala de aula caiu em suas mãos.  Na verdade, essa sala é a consequência das escolhas que você fez, estudou (e muito!), se inscreveu como candidata a uma sala, trabalhou para aprender e demonstrar que é capaz. E você é! Portanto, embora surja a ansiedade diante dessa nova experiência (acredite, todas as professoras passam por isso), faça o exercício de retomar sua história, pense em quantos obstáculos já superou, o quanto já aprendeu e o quanto tudo isso a faz competente para assumir a missão a qual você se propôs: a de educar! Acredite em você!

Para bem a acolher, é preciso conhecer a criança que atende: estude!

Ao trabalhar na área da educação, nós estudamos a infância o tempo todo, aprendemos, conversamos e refletimos sobre o desenvolvimento infantil e suas formas de viver no mundo e aprender. No entanto, quando escolhemos (ou somos escolhidos) para assumir uma turma, a responsabilidade pelo desenvolvimento daquelas crianças nos convida a um olhar ainda mais aguçado para a compreensão de suas particularidades. Te convido a pensar: Você conhece bem as características do desenvolvimento de crianças da faixa etária com as quais irá trabalhar? Sabe o que deverão aprender, quais habilidades devem ser desenvolvidas? Conhece possíveis estratégias, adequadas à faixa etária, para o desenvolvimento dessas habilidades? Claro, nenhuma professora precisa ter todas essas respostas prontas, “na ponta da língua”, ao conversar sobre os diferentes níveis da Educação Infantil. Mas, após assumir a turma, conhecer as respostas para essas perguntas no que se refere à faixa etária atendida é um compromisso. Conhecer a criança é primeiro um sinal do respeito que você tem por ela e, segundo, um subsídio essencial para que você se prepare para planejar o que for adequado a ela, evitando métodos e propostas que estejam além – ou aquém – da capacidade da criança. Para conquistar essa segurança e autonomia ao planejar, é preciso que você assuma o compromisso pessoal de estudar! Leia, pesquise, busque referências que o ajudem a retomar e agregar novos saberes ao que você já sabe sobre a criança, tenha como propósito buscar conhecimentos que te aproximem cada vez mais da criança que atende.

Invista no acolhimento às famílias

Toda família, ao matricular um filho na escola, carrega expectativas em relação à instituição, à professora e as possibilidades de atendimento e aprendizagem das crianças. E, diante de tantos anseios, nós professoras seremos a maior referência para apoiá-las a gradativamente adquirir a segurança de que estão fazendo a melhor escolha para o desenvolvimento de seus filhos e de que nós compartilhamos do mesmo objetivo e temos o compromisso de ofertar o melhor atendimento à criança.

Vale aqui registrar, que cada família tem uma configuração, um hábito, um modo de se comunicar bastante particular, infelizmente em alguns momentos esses questionamentos familiares podem chegar até você de uma maneira não tão agradável e educada, nessas situações jamais se esqueça que nós somos educadoras e, por isso, faz parte de nosso papel agir com a polidez necessária para apoiar aquela família a se acalmar e compreender o porquê de nossas ações. Por isso, não se canse de conversar com as famílias sempre que apresentarem algum questionamento ou insegurança. Escute, acolha e cuide das palavras usadas, de modo que a dúvida seja realmente sanada e que compreendam e se sintam cada vez mais próximos das propostas realizadas.

Acredite no valor do trabalho coletivo: estabeleça parcerias

Você é a responsável por aquela turma, pelo planejamento das propostas que serão desenvolvidas, pelo acompanhamento da aprendizagem de cada uma das crianças e pelo olhar cuidadoso para as necessidades específicas de cada uma delas. Mas as decisões decorrentes dessa responsabilidade não precisam – e não devem – ser um caminho individual, sua sala não está de “portas fechadas” para o restante da escola, você não está sozinha. Compartilhe as situações que ocorrem em sua sala com a Equipe Gestora, antecipando, com apoio desta, os possíveis encaminhamentos para melhor atender a criança. Acredite também no valor da troca e compartilhamento de saberes com seus colegas de trabalho, ter parceiros e dialogar com eles é uma ótima oportunidade de refletir sobre uma situação com um olhar diferente do nosso e de aprender por meio da experiência do outro. E, quando falamos em trocar experiências, estamos considerando também a sua contribuição. Sim! Você também tem ideias e experiências que muito podem apoiar seus colegas e parceiros de trabalho, mesmo os mais experientes. Não deixe de compartilhar! Dúvidas irão surgir, sempre! Pergunte, sem receio de que suas perguntas possam ser banalizadas ou demonstrar o que você não sabe. Seus questionamentos mostrarão, na verdade, o seu interesse em acertar e sua responsabilidade com o trabalho que assumiu.

Registre seu trabalho

Crie o hábito de registrar o seu trabalho, as propostas realizadas com as crianças nos diferentes momentos da rotina, suas respostas, suas ações espontâneas, as “histórias” criadas por elas no dia a dia. Para isso utilize diferentes estratégias, recursos que você tem fácil acesso, utilize, por exemplo, seu celular para tirar fotos, fazer gravações de vídeo e/ou áudio (sim, o bom e velho gravador pode captar com riqueza as falas espontâneas das crianças, que tal deixá-lo ligado em momentos de diálogo com seus alunos?), tenha também um espaço próprio para fazer seus registros escritos, pode ser um caderno ou pasta, onde você relate as experiências vividas, suas observações, reflexões, dúvidas, avaliações das propostas e do desenvolvimento das crianças, além de novas ideias e possibilidades de encaminhamento para as demandas da sala de aula. Esses registros não serão guardados ou esquecidos, serão na verdade valiosos recursos para você retomar o caminho percorrido, avaliar o seu próprio trabalho e a aprendizagem de seus alunos, compartilhar com a equipe escolar aquilo que deu certo (assim como o processo para o sucesso do que foi proposto) e preparar materiais para documentar e compartilhar com as famílias o trabalho desenvolvido e o avanço das crianças.

Eduque seu olhar: veja a escola como um espaço coletivo

Você é parte da escola e o todo, para ser completo, para funcionar bem e ter a oferta de um serviço de qualidade que todos desejam, precisa essencialmente do comprometimento de cada membro que o completam. Como já conversamos anteriormente, a sua sala de aula não está de portas fechadas para o restante da escola e, assim como você deve contar com o apoio de toda a equipe escolar, a escola precisa de você, de sem compromisso e envolvimento, inclusive no que diz respeito aos seus diferentes espaços e contextos. Por isso, nossa sugestão: envolva-se! Abrace o compromisso de olhar para o espaço de sua sala de aula, cuidar da seleção, organização e manutenção dos materiais que serão oferecidos para as crianças. Sinta-se também responsável pelos ambientes e materiais que estão no entorno de sua sala de aula, os espaços de uso coletivo também precisam de você, de seu olhar, suas ideias e ações de qualificação e cuidado para aquele local, de modo que ele “trabalhe” junto com você na oferta de experiências de qualidade para seus alunos (e também para os outros alunos da escola). Esse cuidado é demonstrado por meio de sua atenção quanto ao que é disposto nesses espaços, o modo como esses materiais estão acessíveis às crianças, como elas interagem com estes objetos e com os amigos e como organizam o espaço após a proposta, pois, a partir de sua observação, é possível buscar caminhos para aprimorar ainda mais a qualidade desses espaços. Seu compromisso com o coletivo é também expresso por meio da orientação aos seus alunos no uso desses espaços e materiais. Quando entendemos que todas as nossas ações dentro da escola estão interligadas, percebemos o quanto os diferentes profissionais da escola devem ter seu trabalho valorizado e do quanto estes necessitam de nosso apoio para que desempenhem sua função com qualidade (seja ela cozinhar, limpar, administrar, ensinar…) e o ganho desse esforço conjunto é uma escola harmoniosa, que pode ter dificuldades sim, mas que consegue vencer os desafios porque pode contar com o compromisso de todas as partes que a compõe.

Cuide de sua postura: suas ações inspiram muitas pessoas

Você já se olhou dessa maneira, como alguém que inspira pessoas? Você professora, que estudou educação e dedica-se profissionalmente a formar pessoas é modelo seguido por quem a cerca, crianças e adultos, mesmo que involuntariamente e que não se dê conta disso. Um exemplo clássico: muitas vezes mães relatam brincadeiras espontâneas dos filhos em casa, nas quais imitam práticas de “escolinha” e reproduzem situações vividas no ambiente escolar, momento em que assumem o papel da professora e imitam suas posturas, falas, tratamento com as crianças. Sim, as crianças nos observam o tempo todo. E nos imitam. As famílias, por sua vez, nos avaliam constantemente e, muitas vezes, suas ações são pensadas e reproduzidas a partir das nossas, inclusive em momentos de eventuais descontentamentos. Se agimos com impaciência e rispidez, provavelmente teremos como resposta atitudes intolerantes e agressivas. Se, por outro lado, escolhemos bem as palavras e a forma polida de tratamento, as chances de colher respostas educadas são muito maiores, além abrir espaço para diálogos de qualidade, a melhor forma de resolver qualquer situação. Essa reflexão pode ser reportada inclusive para nossas relações com colegas de trabalho e funcionários da escola, somos modelo também para eles. Saber que somos observadas o tempo todo não deve nos assustar, pelo contrário, deve trazer a consciência da dimensão de nossas ações e do quanto devemos cuidar de nossa postura e profissionalismo na escola, que é nosso ambiente de trabalho e deve ser visto e respeitado como tal. Você será inspiração, isso é certo! Como professoras, cabe a nós escolhermos se queremos deixar marcas negativas ou positivas naqueles que se espelharem em nós.

A primeira sala de aula! A tremedeira, as palpitações mais fortes, a insegurança… todos esses “sintomas” vão aparecer. E devo dizer que sentimentos como esse não serão exclusivos desse momento de tamanha novidade, você provavelmente os reviverá sempre que houver algum tipo de mudança, quando fizer escolhas por novos desafios. E que feliz será você por se propor essas novas experiências. Quando, por acaso, sentir a insegurança se aproximar lembre-se que nossas vivências anteriores, sejam elas vividas no chão da escola ou em ambientes diversos, carregaram nossa bagagem de experiências e conhecimentos, estes extremamente importantes para a profissional que construímos atualmente. O “frio na barriga”, a expectativa ao lidar com o novo é natural, afinal quem não se sente um pouquinho insegura ou nervosa diante de uma situação nunca antes vivida, não é? Mesmo os profissionais mais experientes vivem essa sensação ao abraçar um novo desafio. Mas não se esqueça de que essa é a continuidade de seu caminho e as suas conquistas anteriores (estejam elas traduzidas em seus estudos, memórias ou trabalhos profissionais em diferentes áreas) te prepararam para estar exatamente onde está hoje. Portanto, valorize sua experiência e, mais uma vez, jamais deixe de acreditar em você! Boa sorte!

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Monique Ribeiro
Pedagoga

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Equipe Prosa Pedagógica