Como era a brincadeira na sua infância? Com quem você brincava? Com irmãos, primos, vizinhos? Onde vocês brincavam? Na rua, pracinhas, quintais? Com quais materiais brincava? Com areia, pedrinhas, bichinhos, joaninhas e borboletas, em córregos naturais e inventados com a mangueira saindo um fio de água para fazer bolos de barro e de areia? Estas perguntas nos levam a reflexões importantes sobre o brincar livre e com a natureza.
Quantas brincadeiras boa vivenciamos, de ir para casa só no fim do dia, sujos e felizes por momentos tão intensos de brincadeiras. Trazer a memória este tempo nos ajuda a olhar com mais sensibilidade para as infâncias nos dias de hoje.
Lembrar de nossa infância como educadores nos faz ver o quanto as brincadeiras livres nos proporcionaram tantos aprendizados, de interpretar papéis, interagir com crianças de diferentes faixas etárias, explorar a natureza e vivenciar experiências únicas e importantíssimas para o desenvolvimento.
Atualmente as infâncias são muito mais urbanas, algumas crianças até relatam experiências de brincadeiras livres e naturais, porém grande parte vivenciam uma infância com brinquedos prontos e pés calçados e poucas oportunidades de interagir com outras crianças e explorar espaços naturais.
Diante desta realidade é na escola que a criança vai encontrar maior liberdade de brincar livre, explorar materiais naturais e interagir com outras crianças. Sendo necessário que a escola se preocupe em oferecer possibilidades para a criança brincar e ter a “liberdade de ser criança”, vivendo experiências e descobertas importantes para seu desenvolvimento, criando memórias de texturas, cheiros, sabores, temperaturas, sensação de pisar e sentir a grama, a areia entre os dedos, experiências que somente o contato com a natureza proporciona.
O espaço natural na escola também é um desafio, pois requer cuidados e manutenção, por isso é preciso ser uma meta da escola criá-lo e mantê-lo, devido a sua grande importância. Algumas escolas têm um amplo parque com árvores, grama, flores, terra e tanque de areia. Em outras escolas a realidade é muito diferente com brinquedos de plástico ou metal fixos, pisos cimentados, gramas sintéticas ou emborrachados, estes espaços foram pensados para o brincar, porém não foi pensado para as diferentes possibilidades e experiências que o brincar livre e com a natureza proporciona.
Ter um espaço natural amplo ou não, não significa que a criança vai ter mais ou menos liberdade de brincar, ou que vai explorar materiais naturais. Brincar livre com a natureza quer dizer que a criança vai ter tempo suficiente para brincar e também que a criança vai ter acesso a diferentes materiais naturais. Isto quer dizer que, como professores precisamos refletir sobre o tempo e materiais que ofertamos as crianças para brincar, e como planejar propostas que propicie estas experiências e acesso.
Então como oferecer às crianças o brincar livre? Como proporcionar experiências de brincar com a natureza? Será que 30 – 40 minutos de parque são suficientes para as crianças criar brincadeiras, explorar materiais e interagir com outras crianças? É difícil oferecer materiais naturais (areia, terra, água, pedrinhas, folhas, flores) para as crianças, com espaços limitados na escola?
Por que levantei estas perguntas? Para que você professora possa refletir, e assim chegarmos juntas a respostas que realmente façam sentido na prática. E diante destas colocações destaquei três, que ao se transformar em ações proporcionará propostas possíveis e interessantes às crianças.
Espaço:
Se a escola que você trabalha oferece apenas espaços para brincar com brinquedos fixos e pisos sintéticos, podemos fazer este espaço ser mais diversificado, com plantas aromáticas, temperos e flores que poderão ser plantadas em pneus, vasos e canteiros. Para criar sombras podemos utilizar tecidos de diferentes texturas entre os brinquedos. Oferecer para as crianças a exploração de água, folhas, pedrinhas, flores, terra e areia em bacias e potes. Para os espaços naturais amplos, observe as possibilidades, leve outros materiais que poderão completar a exploração como potes, colheres, baldes e água.
Planejamento
Não limite o brincar livre ao horário de parque, sabemos que na escola tempo e espaços são preciosos, planejados na rotina coletiva para o acesso de todas as crianças. Garanta que o brincar livre esteja presente em outros momentos da rotina de sua turma. Planeje propostas dentro da sala, como por exemplo uma coleção de pedrinhas, folhas, flores, ou uma pesquisa sobre os pássaros que vivem nas árvores da escola. Realize atividades de arte com materiais naturais colagens, desenhos e pinturas, com terra, flores e folhas, oferecendo às crianças olhar para as cores e texturas de maneira real e sensível. Podemos brincar com materiais naturais e brinquedos prontos como bonecas, carrinhos, panelinhas e também com caixas, canos, cones, etc. Permita que as crianças façam esta interação entre materiais prontos e naturais, enriquecendo a brincadeira.
Postura do Professor:
Para algumas crianças brincar livre com materiais naturais é comum. Para outras esta é uma grande novidade, é natural para as crianças bem pequenas serem resistentes para explorar materiais com texturas diferentes, elas também estão descobrindo a interação com outras crianças. Ao planejar essas propostas é essencial que você professora tenha observado estes comportamentos, para fazer agrupamentos entre crianças mais e menos experientes e interagir com as crianças fazendo intervenções. Em alguns momentos podemos estar somente junto com elas, em outros, seremos ativas convidando – as para a brincadeira, ensinando-as a explorar os materiais, seremos modelo.
Assim como nós tivemos essas oportunidades de brincar livremente com a natureza, precisamos oferecê-las às crianças. Pense no seu espaço, planeje propostas, providencie materiais naturais, conte com as famílias e a equipe escola para colaborar e principalmente esteja presente para as crianças, incentivando – as e apoiando em suas brincadeiras. Brincar é um direito da criança e nós enquanto educadores temos o compromisso de garanti-lo na escola.